Saturday, October 8, 2011

Weekly Review(s) 26 Setembro - 09 Outubro

 

Estas semanas foram frutuosa em acontecimentos dignos de nota, sendo que dois dos quais se encontram inclusivamente já comentado nos meus anteriores posts.

Montanha russa
As últimas semanas não têm sido fáceis para os investidores. Continua um grande grau de incerteza e medo nos mercados, os índices reagem mais do que seria de esperar a notícias que não são previamente filtradas, num tipo de comportamento algo psicótico.







Eu tive oportunidade de analisar os gráficos acima, para os quais (apenas por curiosidade) chamo a atenção. Nestes é possível observar como tem sido o comportamento dos mercados. São a prova do medo dos investidores. E desengane-se quem pensar que são os pequenos investidores que provocam este tipo de movimentos. E é aqui que encontro alguma preocupação. Ao que parece, os gestores de fortunas sentem-se um pouco desorientados com toda esta conjuntura. Diria mesmo que, neste momento, ninguém se arrisca a sustentar qualquer estratégia. Está tudo num modo de floating seguindo a tendência geral. Quando assim é, surgem ordens contraditórias mesmo de dentro das mesmas entidades e tudo isto vai ampliando o sentimento de incerteza. Diria que, se a situação europeia não encontrar rapidamente uma direcção, o caminho do mercado é continuar a descida. A bolsa precisa de certezas para hoje; amanhã logo se vê.


James Wolfenson “dá música” a Portugal

James Wolfenson, líder do Banco Mundial entre 1995 e 2005 (tendo realizado um trabalho amplamente reconhecido) cruzou-se com Vítor Gaspar durante as reuniões anuais do FMI e Banco Mundial. Wolfenson terá afirmado categoricamente que o plano económico de Portugal é “muito credível, forte” e que o nosso ministro das Finanças é “extremamente bom”. Contudo, em linha com o que aqui já expressei ser a minha opinião, terá também deixado claro que é extremamente necessário a Portugal que “o sistema financeiro europeu se aguente”. É simples perceber a razão para tal. Portugal depende neste momento do auxílio externo e os seus compromissos foram assumidos com base num pressuposto de algum equilíbrio europeu. Qualquer instabilidade irá afectar em muito a nossa performance e o problema agrava-se com a probabilidade de um default grego. Num momento de desespero, Portugal será apenas um dos países em apuros. Infelizmente, um dos pequenos.



Uma crise de valores, uma corrida contra o tempo
No momento em que escrevo estas linhas sou inundado por notícias que dão conta do aperto em que se encontra o banco Dexia. Este banco, com participações do Estado belga, francês e luxemburguês, emprega mais de 35.000 pessoas e foi listado na Fortune Global 500 de 2010 como uma das 50 entidades financeiras mais rentáveis do mundo (mesmo depois de, já em 2008/2009, ter sido resgatado pelos governos após serem levantadas questões relacionadas com a sua exposição a vários activos tóxicos nos EUA e na Alemanha). O Dexia é um sinal. E é o primeiro sinal simplesmente porque desde 2008 que se encontra numa situação movediça. Segundo dados da Reuters e a preços de mercado das acções na passada terça-feira, o banco não vale mais de cerca de 2,5 mil milhões de Euros o que, face à sua posse de 3,8 mil milhões de Euros de dívida grega, o que o coloca numa posição muito pouco favorável. O título chegou a afundar cerca de 29% ao longo da semana. O problema é que, dada a conjuntura presente, não basta aos governos (como em 2008) injectar dinheiro seguindo uma metodologia “tapa furos”. Tarde e a más horas toda a gente percebeu que é realmente necessária uma intervenção de fundo na estrutura e no modelo de governação das entidades financeiras.
É pura especulação lançar probabilidades e falar do desfecho da situação actual. A verdade é que os dados estão lançados não só na Europa, mas em todo o mundo. Basta olharmos para o comportamento dos mercados mundiais para percebermos que hoje, mais que nunca, todas as entidades financeiras estão correlacionadas entre si. É exactamente neste ponto em que devemos procurar o nosso fôlego e por uma razão muito simples: o leque de opções é amplo. Contudo deve perceber-se que esta é uma crise de valores, com origem na ambição das entidades financeiras, dos investidores e, no limite, de qualquer consumidor comum. Sair da crise é uma questão comportamental que não se resolve com bailouts e austeridade. Isso apenas nos compra algum tempo.
A situação em que nos encontramos exige equilíbrio. Como tal, vejo com alguma incompreensão as declarações recentes dos líderes europeus que, com serenidade, asseguram que qualquer banco europeu em dificuldades será resgatado sem problemas. Não é preciso esclarecer as pessoas que o dinheiro não nasce (tal como estes senhores tentam vender), apenas se transfere. Importa recapitular o conceito de que as transacções puramente financeiras são em essência uma “zero sum game” – alguém ganha, alguém perde – o benefício de um é o malefício de outro.

Good Old Moody’s (Parte 2)


Nem me vou alongar. Os cortes de rating da Moody’s já não são notícia. Só acho piada porque, no fundo, todos os bancos portugueses são lixo financeiro, mas nem todos estão com um Outlook negativo! A excepção vai para o BPN que, segundo a agência, “tem perspectivas de desenvolvimento para todas as categorias”. Lembram-se do BPN? Aquele que tinha um buraco de cerca de 1,8 mil milhões? Parece que agora está porreiro.

 
Warren Buffet “autoriza” compra de acções próprias da Berkshire Hathaway




Eu admiro Warren Buffet. Inclusivamente, em dadas alturas, explorei bastante a sua metodologia de investimento e o seu racional. Ainda assim, fiquei espantado com a sua jogada desta semana.
Em 1944, Buffet já andava de porta em porta a vender Coca-Cola, sendo hoje um dos maiores accionistas da empresa. Nesse mesmo ano, com 14 anos de idade, fez a sua primeira declaração fiscal. Alegou que o seu relógio e a sua bicicleta eram essenciais para o seu negócio e obteve uma dedução de 35$. O investidor mais bem-sucedido do mundo gosta de apostar em coisas “certas”, empresas que compreende e nas quais investe sempre a longo prazo. Esta é uma daquelas conjunturas em que Buffet se sente como peixe na água – a situação do medo. Diz que quando existe incerteza é quando surgem os melhores preços nas acções e é aí que investe. Aliás, com a queda abrupta dos mercados em Agosto deste ano, principalmente das acções do sector financeiro, o que Buffet fez foi investir 5 mil milhões de dólares no Bank Of America. Desengane-se quem pensar que o fez simplesmente porque tem capacidade para isso e porque para ele, no fundo, não é tanto dinheiro assim. Buffet não esbanja, muito pelo contrário. O seu “espírito de poupança” – chamemos-lhe assim – é lendário e por vezes até alvo de censura por parte dos seus colegas ricos mais… gastadores.
Na passada semana Buffet deu “autorização” para a compra de acções próprias da sua querida Berkshire Hathaway (empresa pela qual gere todos os seus investimentos). O anúncio foi uma grande surpresa em Wall Street simplesmente porque pressupõe a possibilidade de este comprar as acções a um prémio de 10% sobre o seu valor contabilístico. Algo que para um mercado que segue atentamente os movimentos de Buffet só quer dizer uma coisa: que ele confia na economia mundial, está certo do seu julgamento de anos a escolher os sítios certos para pôr o seu dinheiro e que quem quiser “andar à boleia” da Berkshire terá de deter a acção acima de um determinado valor que este acha justo. Visto desta forma, o movimento foi fantástico. Obviamente que tal feito apenas podia ser levado a cabo por uma pessoa da sua influência, mas nem por isso deixa de ter alguma genialidade. O que Buffet fez foi, com grande simplicidade, criar um floor aparente para as acções da sua empresa. Traduzindo em linguagem descomplicada: muito provavelmente (e tendo em conta a sua posição) as acções não irão descer ao ponto de as comprar – e ele sabe-o bem.

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