Monday, October 3, 2011

“Miss Austerity” Angela Merkel

Na passada segunda-feira tive oportunidade de ler a transcrição da entrevista que a chanceler alemã Angela Merkel concedeu à ARD (ver aqui).
A maioria das suas palavras foi destinada a convencer os alemães da necessidade de expansão do Fundo de Estabilidade Europeu, que viria a ser aprovada no parlamento alemão (Bundestag) na quinta-feira seguinte. De facto, a segurança passiva sempre foi um ponto fortíssimo da “engenharia” alemã. Traduzindo para linguagem técnica, Merkel sugere a criação de um airbag de última geração cuja pretensão é a de evitar a desgraça no caso de incumprimento grego. Até aqui, julgo que faz todo o sentido e só peca pela demora. No entanto, sem querer ser demasiado extremista, acho que a senhora borrou a pintura ao recorrer à frequente intransigência germânica e afirmar que os países que não cumprirem com os limites impostos pelo Tratado de Maastricht “devem ser obrigados a cumprir”. Eu não concordo com esta abordagem demasiado simplista. É uma visão curta. A rigidez e austeridade não resolverão os problemas de fundo da Europa, muito menos as sanções sobre sanções sobre países em desespero. As sanções funcionam francamente mal e, no limite, apenas como método preventivo e não resolutório. A Europa franco-germânica tenta impor uma liderança através de austeridade, não conseguindo atingir que esta, em demasia, causa danos que demorarão muito tempo a reparar. Isto é verdade mesmo na própria Alemanha em que as exportações desceram, assim como o consumo doméstico, prevendo-se que o seu crescimento global, a existir, estará ridiculamente baixo do seu potencial.
Felizmente, julgo que estamos a atingir um ponto de inflexão importante neste tipo de comportamento. Nos próximos meses veremos eleições na Alemanha, em França e em Espanha. Esperemos que os eleitores ponderem a sua decisão após completamente sabedores da nossa conjuntura e do impacto da mesma. E esperemos, ansiosamente, que se exija à Europa uma verdadeira liderança com base na união. Como se lia já no editorial de 18 de Agosto do New York Times, convém desligar o modo de “piloto-automático” da austeridade e partir para o comando manual.
PS: Por falta de tempo, a “Weekly Review” da passada semana não foi, como costume, postada hoje. A minha disponibilidade não foi a suficiente para cumprir com o que tenho planeado, pelo que decidi adiar a análise completa. Julgo que o leitor bem compreenderá.

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