Thursday, September 29, 2011

“Governments Don’t Rule the World; Goldman Sachs Rules the World.”

Terça-feira tive o prazer de ver algo que quero partilhar aqui.
Num especial de informação sobre a situação crítica da Europa, a BBC decidiu realizar uma entrevista ao improvável trader da City londrina que correu da seguinte forma:


Achei o momento magnífico. Eu e, provavelmente, o mais de 1 milhão de pessoas que já viu este mesmo vídeo ou que acompanhava a emissão.
O auto-intitulado trader dá literalmente uma coça à situação ao francamente expor a sua visão fria e crua sobre os acontecimentos e sobre como os bancos de investimento contemplam esta crise. Apesar do estardalhaço do feito, existe, na minha opinião, algum fundamento na declaração de Rastani. Não é mentira que os bancos de investimento como o Goldman Sachs têm ao seu dispor instrumentos potencialmente destruidores de riqueza para milhões de pessoas. Não é mentira que o impacto das suas decisões não seja medido tendo em conta o bem-estar da generalidade da população, mas sim os seus próprios lucros. E não é mentira que o Goldman Sachs se esteja quase a borrifar para o sucesso do plano de resgate. Mas tudo isto tem uma justificação elementar. Ao banco e aos seus traders interessa fazer dinheiro. Não interessa tanto o método como o fazem; ou seja, se é na alta ou na baixa. Julgo que temos, no entanto, de ser honestos e conseguir atingir que isto de ganhar com a corrosão económica não é novidade para ninguém que esteja familiarizado com o funcionamento do mercado dito livre, principalmente após a introdução dos derivados (que ainda hoje permanecem ausentes de regulação) e das práticas de short.
Rastani é um jogral mensageiro, contudo a essência da sua mensagem não deixa de ser relevante. Há de facto pessoas que não compreendem o mercado e que não estão “preparadas”, como ele próprio diz. Não que eu concorde com o cenário apocalíptico que ele traça, mas ponho um exemplo muito simples. Após o crash de 2008 foi criada uma espécie de comissão de inquérito por parte do governo dos EUA cujo objectivo foi o de apurar as responsabilidades das instituições financeiras. No processo, o presidente da comissão – Senator Carl Levin – realizou inquérito directo ao presidente do Goldman Sachs (Lloyd Blankfein) acerca da existência de situações em que o banco terá efectuado a venda de determinada posição a um cliente e, posteriormente, apostado fortemente contra essa mesma posição. Procedimento anti-ético, errado, maldoso e potencialmente destruidor da riqueza do cliente? Não. Na opinião dos defensores do mercado livre isto é um procedimento perfeitamente legítimo e natural. O banco é um market-maker, isso faz dele um comprador/vendedor com este tipo de práticas. Mas o perigo é este mesmo. A postura destas instituições financeiras não é compreendida pela generalidade das pessoas e não existe qualquer esforço de divulgação da mesma por uma razão muito simples: a ignorância dos investidores dá dinheiro aos grandes bancos de investimento.
Para os interessados em ver com os próprios olhos este inquérito, o vídeo encontra-se disponível aqui. Aconselho sem quaisquer reservas, são 7 minutos abundantemente elucidativos.
Robert Peston, Business Editor da BBC, partilha da minha opinião no que refere à importância que a honestidade de Rastani pode revestir. Tanto que, logo após os acontecimentos, terá postado no seu Twitter o link do vídeo e feito o seguinte comentário: "A must watch if you want to understand the euro crisis and how markets work."
Pressionada que estava a imprensa especializada para obter mais e mais informações sobre Rastani, soube-se pelo The Telegraph que o especialista afinal nunca teve a sua carteira profissional aprovada pela Financial Services Authority, que não existem registos relevantes de que terá alguma vez trabalhado para uma instituição financeira conhecida e que, veja-se, a sua conta bancária demonstra um saldo de £985. Mas isto é o que menos importa.
Ontem Rastani foi novamente entrevistado, mas desta vez por Emily Lambert da Forbes. A entrevista, cuja leitura recomendo, encontra-se transcrita na sua totalidade aqui. Rastani foi novamente honesto e admitiu que transacciona a sua própria conta e não institucionalmente, como terá sido dito por alguns órgãos de comunicação social. Entre muitas outras coisas, assume a sua estratégia de investimento, bastante… peculiar.

Para finalizar, ilustrando o quanto a história do senhor Lloyd Blankfein se mantém actual, chamo a atenção para a engraçada votação realizada no Blog “Funny Business”: Who is the most annoying CEO? Nesta pool, Jane Wells (autora) lançou a votação no Twitter. Entre vários comentários e sugestões engraçadas, nomeadamente envolvendo Donald Trump (Trump Organization) Mark Zuckerberg (Facebook) e Kris Jenner (The Kardashians), um comentador atento relembrou o seguinte: “O CEO mais irritante é Lloyd Blankfein do Goldman Sachs por realizar o trabalho de Deus quando aposta contra as posições dos seus clientes”. Este comentário data de 26 de Setembro.
Concluindo, existem os investidores que sabem e não esquecem e existem os investidores que continuam a confiar as suas poupanças aos bancos de investimento.

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