Esta semana foi essencialmente delimitada pelo sentimento pessimista em torno da emergência grega, pela continuidade de uma falta de liderança europeia e pelo anúncio de um novo programa de estímulos por parte do FED, apelidado de “Operation Twist”.
Let’s Twist Again
A verdade é que, se o objectivo do discurso do Chairman do FED Ben Bernanke (ou “Benny Boy” – como é carinhosamente apelidado pela imprensa especializada) era o de estimular o mercado ou, no mínimo, acalmar a grande volatilidade a que tem estado sujeito, a acção falhou redondamente. O Dow Jones Industrial perdeu 6,41%, o S&P 500 6,54% e o Nasdaq desceu 5,30%. O programa de estímulos aprovado foi apelidado de “Operation Twist”, uma vez que prevê a compra de $400 Mil Milhões de obrigações do tesouro com maturidade de longo-prazo e a venda de obrigações com maturidade mais curta, em Junho de 2012. Até aqui, tudo bem. O objectivo é claro – controlar as taxas de juro e impulsionar o mercado imobiliário. Mas a coisa começou logo mal, porque os senhores se atrasaram cerca de 10 minutos a fazer o anúncio (atitude nada usual). Ora, os mercados mundiais, que tão ansiosamente esperavam a declaração, ficaram logo de pé atrás. Tempo é dinheiro. Este facto, aliado às expressões pouco abonatórias da situação económica mundial que foram utilizadas no discurso, provocaram uma reacção adversa dos investidores. (Ver comunicação oficial do FED aqui.)
Num dos artigos mais cómicos que li ao longo desta semana (ver aqui), cita-se a sugestão de Oliver Pursche (gestor de fortunas da Gary Goldberg Financial Services e comentador assíduo da ThompsonReuters e da FOX Business News) de que Ben Bernanke deveria ter baptizado a sua operação de “Operation Kardashian” numa alusão à estrela de TV Americana (ver foto). Oliver diz: "She's inexplicably popular, fairly useless and all about the back end. And that sums up Operation Twist pretty well”. Eu acho esta comparação deliciosa. Oliver brinca ao equiparar o famoso “derrière” da estrela televisiva com o termo técnico de “back end” que está relacionado com as yields (ou retorno de investimento) das obrigações do tesouro a longo-prazo.
Good old Moody’s
Foi, ainda, a semana em que a Moody’s decidiu fazer o downgrade da dívida dos gigantes Bank of America, Wells Fargo e Citigroup. O corte de ratings por parte da Moody’s não é novidade para ninguém, muito menos para os portugueses. A justificação é que foi peremptória e, acima de tudo, surpreendente. Segundo a agência, “é muito mais provável que agora, mais do que ao longo da crise, se deixe cair uma instituição financeira que se encontre em dificuldades” porque “o risco de contágio já não é tão grande e certo” – foram frases incluídas na justificação formal. Traduzindo: segundo a Moody’s, as maiores entidades financeiras dos EUA encontram-se entregues ao seu próprio destino e não terão mais apoio do Estado norte-americano porque o risco de contágio (se um destes gigantes cair) já não é tão grande como era em plena crise. Não me admiro, portanto, que exista algum consenso geral em relação a esta acção e que este seja: “A Moody’s enloqueceu” (ver aqui). Ou seja, segundo a agência: (1) já não estamos em plena crise e (2) os maiores bancos americanos estão sujeitos a cair a qualquer momento, sem que ninguém acuda. Pode não parecer, mas este acto da Moody’s foi importante para Portugal. Então não é relevante podermos expressar que entidade que classifica a nossa dívida como lixo vive em completo delírio? Todos os portugueses sabem e não esquecem que os timmings da Moody’s não são os mais agradáveis. Este é apenas mais um exemplo.
Athena Vs. Troika
A Grécia encontra-se num impasse perigoso para a Europa e para os mercados mundiais. Brevemente o governo irá deparar-se com decisões que nenhum líder deveria ter de tomar, sendo o impacto destas decisões da máxima importância para o mundo financeiro. A este respeito tive o prazer de ver na página da BBC UK uma espécie de árvore de decisão da situação grega, que aconselho vivamente – ver aqui. Sou da opinião que Portugal está em muito dependente da evolução da situação grega e que um eventual default na Grécia poderia arrastar Portugal para um novo pedido de ajuda e, consequentemente, para um novo acordo excessivamente prejudicial à nossa já muito magrinha economia.
Zé “Tanga“ e a Situação Europeia
J. M. Durão Barroso foi entrevistado hoje pela CNN, tendo afirmado com espectacular clareza que “a Europa estará mais forte daqui a dez anos”. Sem me alongar muito no comentário, gostaria de dizer ao senhor José Manuel que espero que ele tenha razão. Garantiu, ainda, que nenhum país iria deixar o Euro, contrariando assim os boatos sobre a Grécia. Mas o momento mais fantástico da sua intervenção foi sem dúvida o proclamar da seguinte frase: “se há de facto uma nova potência emergente no mundo, essa potência é a Europa”. Ora digam-me lá se este homem não é um iluminado? A propósito disto, deixo um cartoon que foi publicado na capa da revista E!Sharp de Novembro de 2005, mas que nem por isso deixa de ser, no meu entender, assombrosamente actual.
Outras Notas
Senti uma dualidade de sentimentos face à notícia de que o rei Abdullah da Arábia Saudita anunciou a concessão do direito de voto às mulheres. Terá este sido um grande passo para o senhor e um pequeno passo para a humanidade? Sinceramente, espero que sim. Por outro lado, receio que o velhinho rei (que uma vez se lembrou de sugerir a implantação de chips nos prisioneiros de Guantamo Bay) esteja apenas a tentar negociar um pouco de ordem, afligido pelos acontecimentos recentes com seus amigos.
Para aqueles que neste momento se encontram com grandes dúvidas devido às condições do mercado financeiro ou, por outras palavras, com vontade de matar aquele gajo que disse que determinada acção ia valer o triplo em 5 anos, fica aqui um conselho do blog Breakout da Yahoo: revisitem o clássico de Billy Joel “Just The Way You Are”, que já em 1970 dizia assim
“ I could not leave you, in times of trouble,
We never would have come this far,
I took the good times, I'll take the bad times,
I'll take you just the way you are. “
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