Apesar da semana que passou ter começado sob uma névoa de incerteza em torno dos desenvolvimentos da situação problemática da Europa e, particularmente, da zona Euro, esta acabou por se revelar a melhor desde Julho nos mercados mundiais, com 5 dias de ganhos consecutivos no S&P 500. Nem o downgrade da Moody’s aos ratings dos gigantes Societe Generale e Credit Agricole (ambos com grande exposição à divida soberana da Grécia), conseguiu suplantar o efeito do rumor (que surgiu ao longo de segunda-feira nos mercados) de que um fundo soberano chinês iria acordar a compra de obrigações do tesouro Italiano. Desesperados como estão os mercados por boas ou, no caso, menos más notícias, esta segunda-feira viria a desencadear o maior rally bolsista desde Julho deste ano. No fundo é como diz o outro: “por mim, o cliente até pode ser um chinês”. Claro que ninguém se deu ao trabalho de ler as letras pequeninas do futuro contrato; obviamente que a China está disposta a bater as notas na mesa, até porque não existe melhor investimento do que comprar uma Europa quase inteira ao desbarato. Então se, como afirmou Wen Jiabao (primeiro-ministro), for concedido à sua nação o estatuto de “plena economia de mercado” e as empresas chinesas ganharem capacidade de, sem limites, exportar produtos excessivamente baratos e possivelmente originários da violação dos direitos mais básicos do ser humano, o juro até pode ser baixinho. Ver aqui.
Quarta-feira passada, Tim Geithner, secretário do tesouro norte-americano afirmou veementemente em entrevista à CNBC que não existe “qualquer possibilidade” de voltarmos a ter de lidar com uma situação idêntica à despoletada em 2008 pela queda do Lehman Brothers. Geithner assegurou, ainda, que a Europa tinha “total capacidade” para resolver os seus problemas. Os mercados reagiram com forte subida. Claro que, tal como escrito e muito bem por Mark Gongloff num breve mas excelente artigo publicado nesse mesmo dia (ver aqui), dá ideia que se esqueceram que este foi o homem que disse que não haveria “qualquer hipótese” de algum dia os EUA verem a sua dívida com rating abaixo do AAA… De qualquer maneira, devo confessar que acabei hoje o dia sentido alguma piedade em favor de Tim. Isto porque, apesar de convidado a participar na reunião extraordinária do Eurogrupo, onde (suponho eu) fantasiava vir a ser aplaudido pelas suas propostas de maior estímulo aos países em apuros, bem como pela sua promoção do fim daquilo a que ele mesmo apelidou de “conflito permanente” entre governos e BCE, Tim acabou por ser enxotado com esclarecedoras expressões do primeiro-ministro polaco tais como “não discutimos a situação da UE com representantes de países não membros”.
Obviamente, nunca passou pela cabeça dos líderes europeus presentes o impacto das inconscientes afirmações que foram sendo feitas ao longo destes dois fatídicos dias de fim-de-semana. Quando o mundo financeiro grita por uma unificação da UE, Jean-Claude Trichet afirma sorridente que tem plena confiança na resolução dos problemas por cada um dos países “individualmente”. Isto porque, na sua opinião, a “zona euro está melhor do que grandes economias”. Assim sendo, optou-se por adiar a decisão sobre a ajuda à Grécia até Outubro, altura em que não haja melhor para fazer. Se até lá a Grécia cair, tanto melhor, resolve-se o problema. Tal como inteligentemente afirmou a senhora ministra das Finanças austríaca, “pode ser preferível a falência da Grécia a um resgate que seja demasiado caro”.
Olhando em retrospectiva, não consigo deixar de me rir perante o facto de Jim Cramer ter afirmado num artigo em que ironicamente desfruta do facto de tudo estar mal (ver aqui) que o grande facto impulsor da bolsa esta semana foi: Tim Geithner.
Entretanto o UBS lançou uma “Media Release” em que declarou ter perdido cerca de 2 mil milhões de dólares devido a apostas não autorizadas efectuadas por um só trader. O comunicado oficial foi o seguinte:
"UBS has discovered a loss due to unauthorized trading by a trader in its Investment Bank. The matter is still being investigated, but UBS's current estimate of the loss on the trades is in the range of USD 2 billion. It is possible that this could lead UBS to report a loss for the third quarter of 2011. No client positions were affected."
Parece uma coisa simples, não é? De facto, até nem é muito complicado. É como diz David Weidner no seu genial artigo de dia 15 (ver aqui): “O que chamaria a um “rogue” trader que ganhasse 2 mil milhões? Resposta: Um Managing Director”. O que David quer dizer com isto é que é praticamente impossível um só trader, por mais genial que possa ser, colocar em risco tamanha quantia sem que ninguém dentro do gigante UBS se apercebesse da situação. Quem sabe quanto dinheiro deu o rapaz a ganhar à instituição antes de começar a perder? Claro, chegou o fim da linha, e aí é melhor fazer rolar cabeças.
Entretanto e focando-me neste pequenino país que é o nosso, não posso deixar de demonstrar a minha tristeza por, na mesma semana em que variados órgãos de comunicação mundiais de renome divulgaram artigos lisonjeiros em relação à evolução da situação da crise em Portugal, se descobre que Alberto João Jardim omitiu “em legítima defesa” um buraco nas contas da Madeira que ascende a cerca de 1,68 mil milhões de Euros. Em menos de quatro anos. Consequências? Agravamento do défice e pouco mais. Há que somar. Votem, madeirenses, o Dr. Alberto João é um porreiro. Ele é o homem que afirma, após esta escandaleira, que a “madeira tem activos e está rica”. Coitado, “a culpa não é dele”, como dizia hoje um seu conterrâneo; “a culpa é daqueles que andam a roubar”. Santa ignorância… Não é que o homem tenha posto dinheiro ao bolso, não quero insinuar tal coisa, mas omitir uma situação gravíssima como esta revela, no mínimo, uma completa falta de respeito pela sua Nação.
Por fim, uma nota à recente tomada de consciência do nosso conhecido Strauss-Kahn (ex-FMI) que, num acesso de claridade, admitiu uma “falha moral” no seu comportamento, muito embora continue a negar todas as acusações de que foi alvo relacionadas com abuso sexual. A propósito deste assunto, concordo em pleno com a visão do Rodrigo (cartoonista do Expresso) que, com verdadeira arte, nos ofereceu a imagem ao lado, já datada de 30 de Agosto.
"Yes, we Strauss-Kahn!"
Notas:
i) O texto acima, apesar da sua data de publicação, foi escrito no dia 18-09-2011, pelo que algumas das questões levantadas podem ter tido desenvolvimentos que nele não se encontram espelhados.
ii) Os links apresentados podem, dentro de algum tempo e por conduzirem para páginas de terceiros com bastante dinâmica, deixar de funcionar ou, nalguns casos, encaminhar para artigos diferentes dos citados.
ii) Os links apresentados podem, dentro de algum tempo e por conduzirem para páginas de terceiros com bastante dinâmica, deixar de funcionar ou, nalguns casos, encaminhar para artigos diferentes dos citados.

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